Educação, moral e cívica
- Renato Grinbaum
- 5 de set. de 2015
- 2 min de leitura

A violência, a ditadura, o totalitarismo como expressões filtradas do mal deixam marcas profundas no ser humano, conflitos e dilemas muitas vezes esquecidos, pelo pavor de seus traumas, e outras vezes remoídos de forma insistente, como uma tentativa de se expurgar o mal afixado. Como diria, "o mal". Embora estes temas tenham sido abordados inúmeras vezes, a ótica que Kohan traz é rica e agrega algo mais do que a simples consolidação da memória dos fatos lineares de um períodonefasto. Sem perder a noção do real valor do mal, sem relativizá-lo numa visão ingênua, sem a pseudoleitura distorcida de Freud, que jogaria toda a culpa para os pais. Kohan entra no terreno da psicanálise como deve ser, sem simplismos. E numa discussão sobre o mal que recheia nossa filosofia. Qual a diferença entre o bem e o mal? Sua personagem faz parte do mal, de um regime autoritário que controla todos os aspectos da vida das pessoas. Maria Teresa é uma inspetora de escola que se fixa nos aspectos morais mais extremos dos alunos de uma escola que é a própria Argentina. Comportamento, locais que frequentam, cabelo, roupas, fumo. Por princípio, para que ela fiscalize, é necessário que de alguma forma conheça, ou se envolva. Sua vida, de certa forma, numa coerência perversa, é viver a infração dos alunos com uma falsa ingenuidade. No fundo, sua curiosidade é uma forma de desejo, que ela cultiva em todas as páginas. Levando para o lado psicanalítico, podemos fazer a hipótese que a vivência da repressão do pecado é a vivência do desejo do pecado. Ela não reprimia os alunos, ela parecia reprimir a si mesma. Talvez aí esteja o primeiro de muitos valores deste livro, associar repressão a identidade, a desejo. Em segredo, ela ama o jovem que imagina ser infrator. Ela imagina, fantasia a transgressão dos meninos como se fosse dela. Um segundo ponto, que não esgota o livro também, é uma extensão desta ideia, do mal contido, transfixado ao bem. Voluntaria ou involuntariamente, muito do mal feito à humanidade, aconteceu como uma promoção do bem. A ditadura parecia querer moralizar para trazer uma civilização, fazendo a barbárie em nome da ordem dos outros (o chefe de Maria Teresa nos mostra que a ordem só serve para os outros, ele está além desta necessidade). Da mesma forma, o Stalinismo alegou a necessidade de expurgar os egoístas e exploradores para promover a justiça social, o nazismo se propôs a exterminar os doentes físicos ou morais para promover a saúde da especie e os genocídios religiosos visam estabelecer a ordem de Deus, o que há mais de puro ao se falar do bem. A diferença é que repudiar o mal é fácil, identificá-lo mais ainda. Difícil é convencer a sociedade que o bem pode ser perverso e causar enormes estragos em nome de uma ética que tem princípios tortos, mas perfeita,ente moldável à boa fé do Homem comum.
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