Psicanálise ficcional - Adrienne Mesurat, de Julien Green
- Renato Grinbaum
- 5 de out. de 2015
- 1 min de leitura
Não é preciso falar da habilidade que Green tem para tecer a construção da vida intelectual e emocional de sua personagem. Seu excelente prefácio é um transbordamento de amor à psicanálise.
O universo de "Adrienne Mesurat" é a célula básica da sociedade, a família, instituição vista também num movimento pendular. Hoje,mas relações pessoais estão balançadas,me o individualismo, a negação à hierarquia e papéis prevalece. Filhos são criados por escolas, pais não são referência. O cimento que une as pessoas se fragiliza e a vida em grupo é substituída por fantasias de coletividade imaginadas em paraísos artificiais. A intransigência e a dificuldade de acomodação às intempéries mostram que o universo pessoal, imaterial, é mais confortável que a vida concreta.

Não caiamos num discurso em defesa da família e dos limites impostos pela chibata. Lembremos que casos como a da menina Richthofen, ao contrário dos apregoados pelos cegos de televisão, foi gerada por um pai muito rígido, que foi desafiado e agredido numa proporção inaceitável para qualquer padrão.
A história de Mesurat vai por este caminho. A família que se basta por si mesma. Que se fecha,me tenta controlar o acesso a mundo. Mais do que entender a personagem principal,me sua neurose, seu descaminho, muito mais me agradou compreender a origem. O pai, que em sua infelicidade, prende suas filhas para que possa tentar não perder o pouco que lhe resta. O senhor Mesurat me pareceu ser o personagem mais rico, controlando a vida das filhas pelo fato de ser viúvo e solitário. A irmã, Germaine, e a própria Adrienne, invejosas, e competidoras pelo título de maior infelicidade.
Comments