Brincando de Deus
- Renato Grinbaum
- 8 de dez. de 2015
- 1 min de leitura
Asco - Horacio Castellano Moya

Ser original é uma tarefa irracional, não depende somente de intenção. Adotar um estilo é reforçar uma linguagem, vivemos numa época onde a ideologia reforça que o valor está no novo, mas nem sempre. O desenvolvimento e a consolidação de um campo de conhecimento ou de uma linguagem artística também deveriam ser vistos como valiosos. Uma cópia explícita e grosseira, uma vontade de navegar numa onda que não é sua é verdadeiramente uma falsidade, mas trata-se de outra conversa.
No caso de "Asco" não temos nem reforço, nem continuidade nem plágio. Enxergo como quase uma brincadeira de estilo, se tivesse que intelectualizar de forma prepotente chamaria de"releitura" ou "dialogar com Bernhard". Para mim uma brincadeira. Para desdizer seu país, Moya adota alguns dos aspectos do estilo de Thomas Bernhard, sua crítica à classe média, à pseudocultura, sua linguagem caudalosa, num fluxo de pensamento criado em torno de um único parágrafo, seu pessimismo e descrédito. Até por ser breve, "Asco" entretém. Uma leitura que não se transformou em arrependimento nem sensação de tempo perdido.
Mas as semelhanças param por aí. Faltam a "Asco" a erudição e a profundidade da discussão filosófica. As ambiguidades, o questionamento ao papel do ser humano na sociedade do espetáculo que Bernhard cita não aparecem no livro de Moya. Até porque se aparecessem, aí sim "Asco" se transformaria em mera cópia.




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