Beckett entre vértebras
- Renato Grinbaum
- 24 de jan. de 2016
- 2 min de leitura
'Casa entre vértebras' ganhou o prêmio SESC de 2006. É óbvio que este prêmio não privilegia os mais populares ou aqueles de maior alcance. Wesley Peres tem uma prosa que não se propõe a ser hermética, é uma viagem que poucos estão dispostos a embarcar.

O livro, fragmentário, tem uma coesão e uma sequência lógica, mas não um enredo, uma historinha para ser acompanhada. Apesar da linguagem poética, quase onírica, não é intrincado ou forçosamente incompreensível. Wesley Peres convida a um mergulho.
Para onde vai 'Casa entre vértebras'? Para dentro de seu personagem principal, que é a consciência. Já me referi a conteúdo psicanalítico de diversos livros, mas aqui é diferente. Julien Green, em 'Adrienne Mesurat' criou uma história e um relacionamento de família disfuncional tendo como base os conceitos psicanalíticos. Outros, especialmente no cinema, exemplificam traumas passados e abusos sexuais como se fossem estes os conceitos de Freud. Wesley Peres vai além da alma.
Em 'Casa entre vértebras' o que me marcou foi a essência da psicanálise feita poesia, numa linguagem às vezes metafórica, outras vezes onírica, nunca cansativa. Angustiei-me ao sentir a solidão de todo ser, a impossibilidade de uma real troca, o outro como autor e expectativa, sem nunca conseguir nos ajudar a desfazer do vazio. Senti a solidão do ser humano que nasce imperfeito e incapaz de sua plena realização, o silêncio, sempre o silêncio dito como poesia.
Em alguns momentos senti a asfixia do mergulho, mas nunca cansaço. Esvaziado, ao final do livro, refleti se não seria melhor ler um best-seller em seguida. Eu ficaria com a impressão de ter a companhia de milhões de pessoas na mesma ilusão. Ainda assim, seria o silêncio.
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