Uma grandeza minúscula
- Renato Grinbaum
- 30 de jan. de 2016
- 1 min de leitura
'Vidas minúsculas' não é um livro minúsculo. Aparentemente é um livro de contos, mas a coesão entre as diversas histórias o coloca num ponto de limite entre o conto fragmentado e o romance uníssono.

Pierre Michon escreve de forma rebuscada, aparando cada fresta do reboco, colorindo cada espaço vago, ainda que minúsculo, com descrições que tornam o texto denso e ao mesmo tempo iluminado, se não musical. Neste sentido, segue a tradição de Proust, de quem me parece ser um descendente. Neste grande, mas pouco volumoso livro, a vida minúscula tem brilho. De alguma forma, lembrei-me de 'Meus amigos', de Emmanuel Bove.Suas histórias são sobre pessoas comuns que não fizeram nada de extraordinário, muitos deles não geraram muito mais que frustração e silêncio. Sua grandeza está em relatar com maestria os conflitos pequenos,mas relações entre pais e filhos, suas escolhas erradas. Pequenos passos que o tempo transformou em grandes distâncias. O filho que recusou o pai, o menino que se sentiu feliz na distância dos pais adotivos. Cada pequeno ato tem significado. Os personagens de Michon são tão comuns, que chegam a ser particulares. São nada mais do que o eco das pessoas minúsculas que somos, por mais que façamos jus à eternidade, mais cedo ou mais tarde seremos esquecidos.
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