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A psicologia da ficção

  • Foto do escritor: Renato Grinbaum
    Renato Grinbaum
  • 11 de set. de 2016
  • 2 min de leitura

Tirza, de Arnon Grunberg


Tirza é um livro excelente. Mas não é o que promete. Não é irônico. Não é uma versão mais recente de Woody Allen, como a capa até aprece sugerir.

Preciso retomar uma tradição a qual ele não parece pertencer. Dos grandes romances psicológicos.Poderíamos começar bem distantes, com Balzac. Ganhar força como o homem natural de Zola, estamos bem próximos quando lemos Terese Raquin. Sem contar o mestre Dostoievski. Ficamos verdadeiramente quentes quando pensamos o quanto Freud influenciou a literatura: Adrienne Mesurat, de Julien Green. Tantos outros do seculo XIX que mostraram a loucura,o desarranjo psicológico e suas raízes. Esta é a literatura da intimidade inconsciente, com a cara dos tempos da psicanálise. Repressão sexual,

inibição de pulsões e desejos. Deslocamentos impossíveis, a somatização, suicídio e loucura. Histeria. Vemos em geral nos livros psicológicos do século XX famílias com pais fortes e autoritários.

Talvez por isto Grunberg esteja nos trazendo uma literatura psicológica diferente. Hoje tudo mudou. O pai esta morto. A família em desordem. E mesmo quando o pai é pai, ele não o é. Relações plenamente verticais hoje são quase impossíveis, o filho pouco depende do pai. Sem contar que vive em seu autoerotismo, deificado desde o nascimento como obra suprema da natureza. Temos outra psicologia, ainda que nas mesmas bases. A loucura é outra. É a perversão da Beleza Americana, de Felicidade, de Tirza. Grunberg nos traz a família e a loucura de um tempo em que as funções dentro da família estão distorcidas num outro patamar. O problema não reside necessariamente na horizontalização, talvez seja uma forma de contato e interação que pode ser mais frutífera, quando bem construída. Muitas vezes as pessoas estão amputadas de suas funções fundamentais. Ou distorcidas, deturpadas em seus papéis e propósitos. Começa com os pais tardios, com poucos filhos, muitas vezes vindo de inúmeras tentativas dolorosas. O rebento é Deus. Podem do excesso de trabalho, transferindo o papel de pai para um Pokemon ou outro personagem qualquer. Em Tirza, há ainda mais. A disfuncionalidade borderline do pai, o mau caratismo da mãe geram uma família cuja libido está centrada no umbigo de cada personagem. Num pai que em busca de sua estabilidade e salvação ama sua filha como se fosse a própria esposa. Mas doença não é cura. É tensão, distorção.


E neste ritmo frenético, Grunberg nos conduz para dentro de uma família que é um exagero, mas como bom retrato, um exagero significativo, expressão e expressionismo que nos permite enxergar o óbvio que está oculto pela rotina. Não é o mesmo romance psicológico de antes, o romance não morreu. É um romance em transformação.


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