top of page

Identidade das identidades

  • Foto do escritor: Renato Grinbaum
    Renato Grinbaum
  • 23 de dez. de 2016
  • 2 min de leitura

A questão da identidade, e mesmo do papel do indivíduo é um dos temas mais comuns da literatura, em especial no século XX. O Castelo Branco, de Orhan Pamuk, é uma importante adição a este repertório. Apesar do

tema intrincado, e das idas e vindas em espelho, o livro transcorre numa narrativa aparentemente linear e não exaustiva. O enredo básico é o encontro de um prisioneiro veneziano, capturado pelos turcos, com seu sósia muçulmano. Eles vivem no castelo, e o tempo tudo um cobiça a vida do outro, misturando suas identidades. O turco Hoja

almejava a racionalidade, o conhecimento, a liberdade de seu capturado. Procura aprender e apreender a vida e a escrita do narrador. Já o veneziano desistiu de sua vida anterior, crendo ter sido esquecido, e almejava a integração numa sociedade com lugares marcados e previsíveis, almejava ser alguém no mundo. A questão da identidade pode ser vista de vários ângulos.


O que vem mais imediatamente é uma certa crítica de Pamuk à identidade turca, meio oriental, meio ocidental, jamais resolvida. Ele associa o lado oriental a um irracionalismo violento, guerreiro, cruel, mas com os indivíduos assentados em seus devidos lugares. Ao contrário, a identidade ocidental está relacionada à narrativa e a memória, a construção do conhecimento e da compreensão. A somatória das duas visões foi uma máquina de guerra genial, mas incapaz de produzir qualquer resultado positivo, ao contrário, matava indistintamente, sendo falha por natureza.


Outra questão de identidade, discutida mais explicitamente ao final do livro, é a cobiça pela identidade do outro. "Devemos buscar o que é estranho e inesperado no mundo exterior, e não dentro de nós mesmos! Ficar procurando quem somos, pensar tanto tempo e com intensidade sobre nós mesmos, só pode nos trazer a infelicidade. E era isso que acontecia com os personagens da minha história: era por isso que nunca chegavam a ser eles mesmos, era por isso que aspiravam o tempo todo a ser outra pessoa. Vamos supor que o que acontecia na minha história tivesse ocorrido na realidade. Ao meu ver, aqueles dois homens que trocavam de lugar podiam ser felizes em suas novas vidas?" (pg. 191). Isto não é um posfácio!


Pamuk de certa forma nos traz não só o conflito de identidade, mas como a insatisfação com a própria identidade, a fascinação com o outro, com o bárbaro, o orientalismo de Edward Said. Não se trata de apologia ao conformismo, mas ao questionamento da fantasia e da destruição da própria identidade, que vez por outra parece permear também as ideias de Houellebecq em "Submissão".

 
 
 

Comments


Destaque
Tags

© 2023 por Amante de Livros. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Google+ B&W
bottom of page