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A literatura está morrendo?

  • Foto do escritor: Renato Grinbaum
    Renato Grinbaum
  • 30 de mai. de 2017
  • 2 min de leitura

A literatura está morrendo? A expressão pobre nas midias sociais está destruindo a potencialidade da literatura?

Esta pergunta pode ser discutida por diversos ângulos. Em primeiro lugar, as midias sociais são literatura. Para começar pela autoficção que todos criam todo dia, quando as memórias e relatos são filtrados para que cada um crie seu personagem e seu ambiente idealizados. A própria linguagem é própria, esteticizada. Pode se falar numa arte amadora, numa estética em função exclusiva do ego. Outra pergunta pode ser discutida a partir de reflexões sobre o livro "Eu não sabia", de Neta Mello. Uma das gracas deste livro é a linguagem. Neta conta a história de

Vivian e seus pais, brasileiros que moram nos EUA. Ao invés de narrar linearmente, cada capítulo é escrito com um meio(midia) distinto. Carta, email, skype, whatsapp e assim por diante. As novas gerações parecem preferir textos curtos, reflexões agudas e pouco argumentadas, imagens entrecortadas a textos. A literatura como conhecemos, a trova medieval, Dom Quixote, A Montanha Mágica, dificilmente terão apelo num mundo que se comunica com pequenos pios. A linguagem está em mudança. Literatura (arte) pode ser tanto linguagem como pode ser história. Forma ou conteúdo. Literatura pode ser o que tem a dizer ou como faz para dizer. Esta discussão é tão antiga quanto os primórdios sem memória. Sem entrar em polêmica, forma e conteúdo vazio é mera retórica, estética solta, em função do ego de um autor. Conteúdo com forma cristalizada é prescrição, tentativa de imposição. A arte se situa em algum ponto entre os dois extremos, às vezes mais para um lado, às vezes mais para o outro. Importante é refletir. As novas mídias mostram que a forma de comunicação entre as pessoas está mudando. As formas tradicionais comunicarão menos, mesmo sendo consideradas superiores. Até mesmo erros de português e neologismos esteticamente condenáveis tomaram a rotina. Então por que não evoluir a forma de expressão da arte? Em “Eu não sabia” Neta Mello se utiliza de recursos como Whatsapp, textos em pendrive, Skype para ilustrar estas novas mídias. Mas em seu texto, as novas mídias são ilustração, porque a linguagem ainda é literária e a estrutura fragmentária é aquela mais comum à literatura brasileira contemporânea elevada. Funciona. Mas não podemos falar em mudança da linguagem literária. O livro será lido por aqueles que gostam de uma (boa) literatura. Não por aqueles que se comunicam por (tweet) pios ou (kick) petardos soltos. No livro de Neta, a literatura incorpora a midia. Só saberemos o que acontecerá com a literatura o dia que as midias incorporarem a literatura.


 
 
 

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