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Kafka no Oriente Médio

  • Foto do escritor: Renato Grinbaum
    Renato Grinbaum
  • 21 de out. de 2017
  • 2 min de leitura

'A mulher de Jerusalem', originalmente 'a missão do gerente de recursos humanos', é um livro complexo e cheio de nuances. Árduo e de leitura muitas vezes desestimulante, seco, mas não por isto merece ser abandonado. Até porque A.B. Yehoshua, israelense, é o retrato vivo dos conflitos e dilemas de uma sociedade que não pode ser compreendida através de conceitos superficiais e reducionistas. Seu livro é polêmico e controverso ao abordar questões extremas desde as relações de trabalho até os direitos sobre Jerusalém.

Por trás de um enredo simples, jornada de um

gerente levando o corpo de uma ex-funcionária para o enterro em seu país natal, Yehoshua constroi uma irrealidade plausível. Seu estilo é Kafkiano, inicialmente pensamos numa versão atual de 'O castelo'. Labirínticoe seco, irritante pela constante provocação da burocracia que parece nunca se resolver. Os personagens não possuem nome, o clima é sarcástico e a situação é enervante, quase inverossímil, girando em torno de um burocracia. Neste princípio de livro, ao contrario de Kafka que ironiza o estado e seu controle burocrático, Yehoshua ironiza o mundo das aparências, das imagens e dos nomes no capitalismo midiático. A começar por um detalhe, o departamento pessoal que muda seu nome para recursos humanos, sem mudar efetivamente nada em sua forma de operação. Em alguns momentos o autor questiona como uma profissional graduada trabalha em limpeza, sua frustração. Mas não se detém muito neste ponto mais ideológico. Ironiza a empresa (a fábrica de pães) e a necessidade de manter uma boa imagem pública, compensando a família da funcionária morta num atentado, mesmo não tendo nenhuma relação com a sua morte. O medo da imprensa, e da imagem acima da verdade dominam a parte inicial do livro.

A jornada para a ex-república soviética para a entrega do cadáver é promovida pela fábrica de pães. A maior parte do livro gira em torno desta jornada. Uma espécie de viagem de Moisés pelo deserto, 40 anos para uma transformação. Tempo para o nascimento de uma nova geração. Mas aqui é o responsável pelos recursos humanos que se transforma, num tempo muito mais curto. Sua jornada é árdua e cansativa, ele parece visitar quarenta andares subterrâneos do inferno para voltar purificado.

Ele retorna crítico e descrente de tudo o que vivia. Após sua transformação, ironiza então todos os valores da sociedade que até então tinha medo de não mais pertencer. Repleto de humanidade em sua nova visão, ele propõe levar de volta o cadáver a Jerusalém, uma cidade, que segundo ele, pertence a todos. Recado claro o bastante para quem deseja e não deseja entender.

 
 
 

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